terça-feira, 9 de agosto de 2011

Currículo e Avaliação

Ao longo deste ano estudamos Currículo , fundamentamos nosso estudo no documento do Ministério da Educação, elaborado em 2008. Cabe aqui dizer que os temas que compõem este documento foram discutidos em um Seminário Nacional realizado entre 22 a 24 de Nov. de 2006, em Brasília. E que a versão preliminar apresentada para as discussões é a mesma que ora estudamos, apenas num formato diferente.
Por que estou dizendo isto? Pelo fato de estarmos em 2011, estudando o mesmo documento, não que o documento não seja relevante para nossa formação, pois ele o é, mas pelo fato de que em 5 anos muitas coisas mudaram, a sociedade mudou, vivemos hoje na sociedade da ponta dos dedos, do click, da informação instantânea, imediata, tudo é postado na internet, o bom e o ruim, o que enobrece e o que difama, o bullyng se tornou, também, virtual, os amores, as relações e até mesmo o sexo.

Penso ser importante para nossa reflexão sobre currículo ilustrar a sociedade das TICs , para tal citarei um trecho da obra de Alarcão ( 2010):
Vivemos hoje numa sociedade complexa, repleta de sinais contraditórios, inundada por canais e torrentes de informação numa oferta de “ sirva-se quem precisar e do que precisar” e “ faça de mim o uso que entender” O cidadão comum dificilmente consegue lidar com a avalanche de novas informações que o inundam e que se entrecruzam com novas idéias e problemas, novas oportunidades, desafios e ameaças.
Continuando com Alarcão, numa fala de Raposo:
[...] as Tecnologias da Informação e da Comunicação, aparentemente neutras em si próprias, podem ser fonte de libertação, de progresso científico, geradoras de solidariedade ou, ao invés, instrumentos de controlo e de manipulação. Ao homem compete discernir, no recurso às Tecnologias da Informação, o que constitui fator de valorização do conhecimento, da liberdade, da solidariedade do que é alienação, manipulação, opressão ou injustiça.


Alarcão, bem coloca como as concepções foram se modificando com o tempo, a era primeiramente chamada de sociedade da informação, rapidamente se passou a chamar sociedade da informação e do conhecimento, e recentemente sociedade da aprendizagem, num reconhecimento de que não conhecimento sem aprendizagem.
O conhecimento tornou-se e tem de ser um bem comum. A aprendizagem ao longo da vida, um direito e uma necessidade. A designação de sociedade do conhecimento e da aprendizagem traduz o reconhecimento das competências que são exigidas aos cidadãos de hoje.( Alarcão, 2010).

Considero importante esta reflexão, para situar a sociedade da qual fazemos parte, embora não a seja a sociedade em que todos vivemos. Somos parte dela, porém, muitos de nós ainda não tem a consciência desta realidade, atual, presente e de e em constante transformação. Ilustro parafraseando uma fala popular: - vamos rápido porque a fila anda! E alguém acrescentou: - e a catraca é eletrônica!
Portanto, não dá para discutir Currículo sem as implicações da sociedade do conhecimento e do contexto mundial na qual ela está inserida. Gostaria neste instante de sugerir a leitura da obra de Alarcão citada na bibliografia deste trabalho.


Voltando ao nosso texto original de estudo digo que algumas das propostas apresentadas no Seminário Nacional foram implementadas , como:
• Implantação do ensino fundamental de 9 anos;
• Estruturação de currículos por áreas de conhecimentos e não por disciplinas.
• Currículo com habilidades e competências para preparar o aluno para a vida em sociedade.
• As avaliações externas no papel da revisão curricular.
• O repensar no currículo do Ensino Médio.
• Contemplação da dimensão estética no currículo ( a arte, música, dança), etc.
Outras indagações , a meu ver, ainda carecem de discussão, copiei do documento algumas, quiçá elas se tornem temas de nossos estudos num
futuro próximo, são elas:
01 - Gestão e Participação
• Quais as melhores estratégias e metodologias de que nós gestores ( cópia na íntegra) podemos lançar mão para provocarmos a construção de currículos democráticos, construtivos, globalizados?
• O que fazer para que os profissionais possam se organizar de forma objetiva para trabalhar com os 4 pilares da Educação?
• A criação do Sistema Municipal facilita a discussão e reelaboração do currículo?
• Como agregar ao currículo às necessidades dos diferentes movimentos sociais?

02 -Conhecimento, Cultura e Conteúdo
• A discussão sobre currículo prevê a análise da historicidade do conhecimento, das ciências? Sabemos de onde vêm as disciplinas que ensinamos? Quais as teorias e correntes que as fundamentam?
• Como equacionar currículos diante de tantas diversidades a serem respeitadas?
• Como organizar um currículo que contemple a interdisciplinaridade ( articulação) extrapolando a divisão disciplinar e avance para as temáticas.
03 – Formação
• De que forma os professores encaram a questão currículo X qualidade de ensino- aprendizagem?
• A formação do professor é adequada para implementar as mudanças propostas no currículo?
04 – Concepção
• Como fazer um currículo que contemple a questão afetiva sem ser romântico e utópico?
• Como construir um currículo humanizante dentro de uma sociedade competitiva?
• De que forma assegurar que os currículos contemplem a educação inclusiva em geral?
Muitas outras questões foram levantadas e discutidas, mas o tempo é pequeno para citar todas, por isso concluirei com as indagações levantadas sobre o tema específico de nosso estudo, hoje, Currículo e Avaliação:
• Como vincular a avaliação institucional com a avaliação da aprendizagem?
• Como transformar o Conselho de Classe num momento de integração e discussão do processo pedagógico?
• Como avaliar os alunos com Necessidades Educativas Especiais (nomenclatura do texto original)?
• Buscar alternativas que facilitem ao professor o trabalho com formas diversificadas de avaliação, pois outros instrumentos demandam um maior tempo de dedicação pedagógica do que o simples instrumento chamado prova.
• Dimensão do erro na avaliação e sua relação com a concepção de ensino – aprendizagem?
• Incentivar a prática da autoavaliação não só voltada para os conteúdos conceituais, mas sim enfocar os atitudinais e procedimentais, através da construção de memoriais, portifólios, etc.

Acredito que nosso desejo, hoje, era encerrar nosso estudo com todas as respostas para a nossa prática, embora com a certeza de que crescemos muito e avançamos em nosso conhecimento penso que em nossa profissão a reflexão deve ser uma constante, motivo pelo qual registrei algumas neste trabalho.
Encerro com as palavras de Alarcão:
Não quero uma escola que se lamente do insucesso como um pesado e frustrante fardo a carregar, mas uma escola que questione o insucesso nas suas causas para, relativamente a elas, traçar planos de ação. Uma escola que reflita sobre os seus próprios processos e as suas formas de atuar e funcionar. Uma escola que analise, desconstrua e refaça as suas opções e sua ação curricular.

Fonte:
Alarcão, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 7.ed. -. São Paulo: Cortez, 2010. – ( Coleção questões da nossa época; v.8).
Fernandez, Cláudia de Oliveira. Indagações sobre currículo: currículo e avaliação. [Claudia de Oliveira Fernandez, Luiz Carlos de Freitas]; organização do documento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia Ribeiro do Nascimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008.